quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O DOM DE NÃO ENTENDER

Um sossego de varanda e então dormi,
‘inda vi casal tentando vôo sem graça
abatido no gramado sucumbir.

Grave ela ferida na agonia
ele aflito se havendo em covardia
por desgosto de com ela então morrer.
Mas ficar ali por perto era preciso;
de verdade bem saber ele sabia.

Esperar por mais seis luas e voltar
para o sol, após velar o que amou.
A esse tempo a pobre ave quis saber:
Por quê?

Por seus olhos quis fazê-lo então saber
que esta vida é fugidia, mas convém
ser levado igual criança no viés
do mistério que o juízo indulgencia.

Longe de entender, por mais que tente,
uma ave não me sabe compreender.
Como igual não entendo o próprio Deus,
que descendo vem olhar no meu olhar
e dizer-me o que não posso decifrar.

(Humberto Ilha)


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